SESIMBRA – A CAMINHO DE SETÚBAL PELO PARQUE NATURAL DA ARRÁBIDA

Eu li em vários blogs que
Sesimbra e o Parque Natural da Arrábida são locais maravilhosos, imperdíveis.
Mas ao procurar hospedagem por lá, achei caro. E resolvi fazer só a passagem
por lá, a caminho de Setúbal. A única coisa que eu não sabia é que, durante
parte do dia, a estrada costeira que faz a ligação entre os dois lugares, fica
fechada para automóveis. Circula o transporte coletivo, motos, bicicletas e
pedestres. Mas isso não chegou a ser problema, e já conto o porquê.
Mas meu primeiro destino, assim que saí do hotel, foi a Praia da Lagoa de Albufeira. Notem, era segunda-feira, e quase não localizo uma vaga para deixar o carro. Todas as vagas na avenida beira-mar estavam tomadas. Tive que retornar e deixá-lo na segunda paralela. E percorri toda a extensão da avenida a pé. Primeiro vendo a Lagoa de Albufeira, várias porções de águas que encantam os banhistas.

E lá na frente, passando por uma escada ou uma rampa de madeira, e dunas de areia fofa, avistamos o mar, e sua praia. E quando você está no ponto mais alto, consegue ver as duas porções de água, lagoa e mar. É muito bonito.

Depois fui para a Praia do Meco, e no final da rua, junto da praia, tem um estacionamento que por dois euros pode deixar o carro o dia todo. E para chegar nessa praia, basta caminhar pelas trilhas de madeira sobre a areia, e depois meter o pé na areia.

Mas se você tomar o outro caminho, e for à esquerda do restaurante, chegará a Praia do Moinho de Baixo, e eu achei essa até mais interessante, apesar das grandes áreas demarcadas com guarda-sóis concessionados.
De lá fui para a Praia das Bicas, deixei o carro perto do camping de caravanas, e não desci a grande escada de madeira que leva à praia. Ao contrário, preferi pegar uma trilha na montanha e tentar ver o mar do outro lado dela. Todo pequeno esforço fica grande quando o sol está nos fustigando com um calor de quase 40°. E a vegetação é rasteira, de modo que não há sombra pelo caminho. Mas venta, ao menos na beira do mar. E isso ajuda bastante, porque ajuda a resfriar o corpo.
E segui de carro até o Farol do Cabo Espichel, onde sabia que iria encontrar o Santuário de Nossa Senhora do Espichel, a Capela Ermida da Memória, e as pegadas de dinossauro. Muito bem, os três primeiros estavam todos ali, perto da área de estacionamento. E as pegadas, eu vi uma placa um pouco antes de chegar ao farol, indicando para virar à direita.
Mas chegando lá, o caminho é para pedestres, e lá fui eu, pensando em voltar se não encontrasse logo, já que não há nenhuma indicação de distância. Andei, andei, e só ficava pensando na volta. Encontrei um rapaz e perguntei para ele:
- Conseguiu ver as pegadas?
- De dinossauro? Vi sim se você olhar bem junto ao mato, dá para ver sim.
- E pelo jeito está longe ainda?
- Sim, ainda tem um bom trecho.
E começou a explicar, vira para lá e depois para cá, mas aí eu já não entendia mais nada. No entanto, supus que já tinha feito metade do caminho, e continuei. O caminho, apesar de exaustivo, foi válido, pois dali via a grande rocha que se estendia abaixo da área do Santuário, de frente. E também pude avistar uma praia lá adiante. E uma exótica flor de coloração amarronzada, que lembra o dente de leão, por sua plumagem.
Estava certa, e já tinha feito metade do caminho. E quando cheguei ao Monumento Natural dos Lagosteiros, só havia uma pequena tabuleta com o nome do local. Uma placa grande que devia conter informações estava destruída. E não havia nenhuma indicação, sinalização ou nada que o valha para identificar as pegadas. E na Pedra da Mua, que é justamente aquela grande rocha, talvez até visse algo se soubesse para onde olhar.
No retorno resolvi ligar o aplicativo de caminhada, e foram 1,16 km. A ida eu sei que demorei meia hora por causa das fotos, da conversa. Mas na volta eu demorei 18 minutos, com velocidade média de 4 km/hora. Não faria novamente. E desaconselho para quem vá sem um guia, dada a falta de sinalização.
O cansaço foi tanto que, no Castelo de Sesimbra, me satisfiz em observar de longe. E depois fui para a cidade a procura da Fortaleza de Santiago. Deixei o carro numa área não paga, no alto, perto dos bombeiros voluntários, e desci a pé até o Forte. E vi que dentro dele havia um restaurante. Ao seu lado direito está a Praia do Ouro. Bem em frente a ele, a Praia da Fortaleza, e à esquerda a Praia da Califórnia. Mas na verdade é uma extensão de areia só, bem grande, bem agitada, e com o mar muito bonito.
Estava com fome e achei que comer na Fortaleza seria interessante para resolver várias coisas ao mesmo tempo. Visita ao forte, banheiro e almoço com vista para o mar. Supus que, por ser envidraçado, teria ar-condicionado. Mas me enganei. Dei uma volta pela Fortaleza e já procurei um lugar à sombra no restaurante.
O garçom mineiro que me atendeu é um rapaz muito educado e cortês. Apresentou-me o cardápio de comidas e de cervejas artesanais, especialidade do local. E uma cervejinha cairia muito bem com aquele calor. Pedi um Falcão Cinzento, uma cerveja cobre, com sabor frutado, e teor alcóolico de 5,3.
- Copo grande ou pequeno? Perguntou ele.
- Qual a medida?
- 3 e 4.
- Quatro então.
Estava sedenta.
E escolhi salmão com camarão na chapa, acompanhado de três tipos de molho: rosé, mostarda com mel, maionese. Batatas assadas e salada mista. Ainda vinha uma salada de pimentões e cebolas, que dispensei.
Qual não foi a minha surpresa quando ele vem com uma chapa de pedra, quentíssima, com 400°, segundo ele, e deposita à minha frente. E os pedaços de salmão, e os camarões já descascados, estão crus, para você chapear e dar o ponto. Ele trouxe ainda sal e pimenta, que não usei e advertiu-me:

- A chapa está muito quente, não coloque os molhos sobre ela agora, senão respingarão em você.
Coloquei alguns pedaços das carnes para assar e fui comendo a salada, que já tinha um pouco de molho. E comecei a brincar com todos aqueles itens, embebendo as batatas nos molhos, e depois as carnes.
O garçom me perguntou se eu queria algo mais e eu disse:
- Acho que vou precisar de uma toalha.
Eu estava encharcada de suor. Mas falei brincando. E não é que ele, gentilmente apareceu com um grande pedaço de papel de cozinha. Muito sensível mesmo.
Ele comentou comigo, quando eu disse que estava adorando a experiência:
- No Brasil devia ter uns assim para fazer picanha.
- Mas tem. E comi uma vez, em Guarapari. Um local chamado Chapa do Japa. Estava com minha família. E a diferença é que ele trouxe a chapa para a ponta da mesa e ele mesmo foi churrasqueando a carne para nós.
E a cerveja, que delícia. Estava adorando todo aquele aparato. Foi mais prazeroso comer assim. E antes de terminar, pedi mais molho, e recebi duas pequenas porções do mostarda com mel e do rosé.
Pedi ainda um café e a conta. Um garçom trouxe o café, outro a conta e outro ainda veio com a máquina de cartão. Este último um gaúcho, que já esta em Portugal há três anos. E adora o lugar.
Quem vier por aqui, conheça o The Tapa House. Acredito que a porção que me foi servida atenderia duas pessoas. Sobrou bastante batata e salada. Concentrei-me mais na carne, e gastei 28 euros com a gorjeta.
Ao retornar para o carro avistei uma igreja, e uma formosa casa em 'reformosa', já que é assim que estava escrito na faixa.
A próxima parada foi indicação de minha amiga portuguesa, a Catarina. Ela passou recentemente pela área e falou da Arrábida. Assim lá fui eu conhecer o Portinho da Arrábida. E de novo, deixo o carro lá encima e pego um descidão de asfalto, até o Portinho. E sabe aqueles lugares que te causam um grande impacto na primeira olhada. Foi assim que me senti. Que lugar espetacular. A Praia fica logo adiante, e do portinho já podia avistá-la. Mas os banhistas já saboreiam o local a partir de onde eu estava, nadando ou praticando esportes náuticos, naquelas águas verde e azul. E a baía está cercada pelas montanhas verdes do Parque Natural. É uma moldura perfeita. E só me lembro dessa sensação em uma única praia anterior: Búzios. E olha que já conheci muitas praias lindíssimas. E conheço Fernando de Noronha. Mas não causaram tamanho impacto.
Quando descia, vi um carrinho de golfe subindo e descendo com gente. E uma vez lá embaixo, já avistei o ponto de partida dele.
- Você faz o transporte para cima?
- Sim.
- E quanto custa?
- Um euro e quarenta.
- Temos que esperar mais gente para subir?
- Não, pode embarcar e já vamos.
Ele disse que me viu descendo. Que muitos o param no meio do caminho para terminar a subida. Eu falei que já tinha caminhado muito neste dia. E foi ele que me deu uma dica importante, quando disse que queria conhecer mais praias ainda hoje.
- Se você vai até a Praia dos Coelhos, pode esperar abrirem a rodovia, às 19 horas, e ir para Setúbal vendo o mar.
Quando desci do carrinho fui direto até a guarda de trânsito, e ela me informou que o horário é às 20 horas. E ainda eram 18h40.
- Mas você acha que vale a pena esperar até às 20 horas e ir por aqui.
- Sim, o caminho é mais curto e mais bonito. Você pode ir até a próxima cancela, deixar o carro e ir conhecer a Praia dos Coelhos.
No estacionamento junto à cancela, o horário de pagamento é só das 8h às 18 horas. E encontrei lugar para meu carro. Fui até o guarda daquela cancela e perguntei como chegar à Praia dos Coelhos. Eu entendi ele me dizer para descer um tanto e depois pegar o trenzinho.
Andei um pouco e cismei de perguntar para um senhor que vinha em sentido contrário:
- O senhor sabe onde toma o trenzinho para a Praia dos Coelhos?
- Vem por aqui.
- Tem uma trilha aqui que vai até a Praia. Eu estou indo nadar na Praia dos Galapinhos.
No fim ele seguiu à minha frente e foi para a mesma praia que eu. E eu não teria conseguido sozinha, já que o caminho tem muitos desvios, é cheio de vegetação, e tem uns sulcos na terra, profundos, em que você tem que colocar pé ante pé.
E lá embaixo uma praia bem pequena, mas charmosa. Logo que chegamos, eu fiz uma selfie nossa, e ele se esticou todo para não ficar tão mais baixo. Assim eu dobrei um pouco os joelhos para me ajustar à sua altura.
Ele me incentivou a entrar na água, passando pelas rochas no extremo esquerdo da praia, e tentar chegar até Galapinhos pelo mar. Eu fui até certo ponto. Mas a maré estava enchendo, e de um trecho em diante, já molharia minha roupa. Ele me deixou ali e foi nadar, depois de tirar várias fotos minhas, mas todas de muito perto.
Eu voltei devagar e em segurança. Tirei a areia dos pés e já me calcei. E aguardei. Vi que já era 19h30, hora de retornar. E logo ele saiu da água. Mas queria continuar nadando. Como eu me despedi e ele viu que eu iria subir sozinha mesmo, mudou de ideia e subiu comigo. O Sr. Soares e todo um atleta, e intelectual. Natação era seu esporte, foi até professor. Mas também pedala. E a trilha para ele foi canja. No caminho vinha falando de artigos que fez sobre Beja. E sobre a definição física do tempo. Disse ser pessoa bastante conhecida na região. E vive em Palmela. O carro dele também estava estacionado na área de parking, bem perto do meu. E ele estar subindo quando eu descia foi toda uma coincidência fortuita. Despedimo-nos sem trocar contato. Minha gratidão!
E pelo horário já não podia parar em nenhum lugar, mas ainda assim apreciei a descida, ainda com a luz do sol, observando toda aquela linda costa marítima. E cheguei ao centro de Setúbal um pouco antes das 21 horas, e já bem perto de escurecer.
Foi um dia puxado, exaustivo, mas muito maravilhoso. Estou exaurindo minhas forças nestes dias. E a alegria fica estampada em minha face.
