Projetos Artísticos e Paisagísticos de Cesar Manrique no Norte de LANZAROTE.

O local onde estou
hospedada é sossegado, a noite é linda, fresca, da janela do quarto avisto as
montanhas. Tem até como ver as estrelas no céu. Ouvi um jumento e cachorros durante
a madrugada. Mas não me ajeitei com os travesseiros de flocos de espuma. E tive
dificuldade para dormir. E olha que eu estava com sono e cansada. Talvez por
isso mesmo.
Considerando que ontem, quando cheguei na casa, os outros hóspedes que estavam sentados confortavelmente na sala correram para tomar banho e tive que esperar os três antes de conseguir entrar no banheiro, hoje coloquei o relógio para despertar bem antes do que precisaria, porque vai que alguém entra no banheiro antes de mim. E eu preciso tomar o ônibus da 9h03. O outro só às 11 horas. E tenho que chegar ao Jardim de Cactos às 10 horas.
E às 7h35 eu acordei, antes mesmo do relógio despertar e fui ao banheiro. Quando voltei e vi que faltavam só 8 minutos, desliguei-o e voltei ao banheiro com os itens de higiene pessoal. Vesti-me no quarto e resolvi que ia tomar café da manhã na praça, já que ainda era cedo.
No final da rua da praça achei um café aberto e pedi um suco de laranja, um café com leite e um pão com queijo quente. Paguei 5,30 e achei um pouco caro para o que era. Mas estava bom.
Ainda esperei uns 15 minutos no ponto. E como não há trânsito, os ônibus cumprem rigorosamente o horário. Hoje havia umas interrupções para manutenção da estrada. Mas quando os operários veem o ônibus de longe, já autorizam o trânsito no mesmo sentido que ele. E não se corre o risco de encontrar outro ônibus vindo em sentido oposto, não de linha, pois, em função da demora, é sempre o mesmo que vai e vem o dia todo.
Cheguei às 9h30 no Jardim e fui a já havia um casal. Tirei foto do enorme cacto de metal que está instalado em seu exterior, umas outras fotos ao redor e sentei-me no muro de pedras para aguardar a abertura. E foi chegando gente, a maior parte de carro. E num instante se formou uma fila. Mas eu não me movi. A bilheteria se abriu mas a fila não diminuía porque ia chegando mais gente. E o jeito foi ir para a fila. Meu ingresso eu comprei pelo Viator e paguei os mesmos 6,50 que pagaria no ato, e não tive direito a fila diferenciada porque não existe tal fila.
Eu aprendi a adorar cactos com o Roberto, meu falecido marido. E agora, quando os vejo, admiro a incrível capacidade de sobrevivência destas espécies vegetais, que têm seu próprio suprimento de água.
E a diversidade deles neste jardim é muito grande. Tinha uma espécie de suculenta com folhas pretas e flores amarela. Sensacional!
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E cactos parecendo árvores de tão grandes.
E toda uma composição de pequenos lagos com peixinhos, pontes de pedra, terraças e pedras construídas de forma a agradar aos olhos e ao coração.
Tirei tantas fotos que vou fazer um álbum só desta visita e deixar aberto no Facebook Meyre Lessa.
Os cactos me inspiram tanto, principalmente por suas floradas, que me levaram a reflexão, procurando as semelhanças entre nós. E cheguei à conclusão de que, diante de toda a secura que a vida possa oferecer, assim como o cacto, eu decidi florir.
O ônibus que me levaria para o próximo destino, supus eu ao ler a placa, só sairia às 13h06. E levei pouco mais de uma hora para visitar todo o jardim, incluindo seu moinho de vento. Já tinha pensado em comer algo por ali que servisse de almoço, já que teria tempo de sobra.
E assim fiz. Pedi um lanche com queijo de Lanzarote (de cabra) e um suco de coco com abacaxi. Depois ainda comi um doce de sorvete. Gastei 13,60 e fiquei mais uma hora por ali. Inclusive eles colocaram meu celular para carregar, já que esqueci a bateria extra no quarto.

Ainda fui ao banheiro, à loja de Souvenirs, só para olhar, e sentei-me num dos sofás da antessala de descanso.


Quando fui para o ponto já era 12h30. E dei umas voltas fotografando a plantação de Palma Forrageira. E as montanhas. E a mim mesma.
Fui olhar a placa e descobri que tem uma linha que faz parada no Jameos de la Águas. Só que passou ao meio dia. Podia ter pego este. Que burra! Não observei direito.

O ônibus que pegarei é o mesmo em que vim, o número 7, que vai de Arrecife a Maguez, e neste trecho de Haría ao Jardim dos Cactos eu paguei 1,40. Agora vou descer no ponto chamado Bar Palenque, e caminhar junto ao mar por uns 3 km até o Jameos.
E o ônibus chegou no horário. Fiz tudo conforme planejado. Detalhe, tudo isso quem me orientou foi o dono da hospedagem. No Google Maps não há opção de transporte coletivo para cá. E entre os internautas diziam para descer em Punta Mujeres, que é um pouquinho mais longe. E foi ele quem me disse que dava para ir pela praia. E foi muito proveitoso.
Para quem está sem tempo, a melhor opção então, se está usando o coletivo, é pegar o número 9 até Jameos. Agora, se fizer o mesmo itinerário que eu, garanta um tênis no pé, porque a maior parte do caminho é de pedra pomes. E é ela mais a vegetação de arbustos e o mar que garantem o espetáculo no caminho.
Como eu tinha comprado o Combo de 3 atrações no dia anterior por 23,50, já tinha o ingresso para o Jameos e para a Cueva de los Verdes. A mulher só carimbou o meu ingresso.
E o que é o Jameos. Bem Jameos é como eles chamam aqui os buracos que se intercomunicam na caverna formada pela lava vulcânica do Corona. Mas a atração é formada por parte do túnel vulcânico, onde foram instalados dois restaurantes, um auditório. Tem um lago de águas transparentes na parte escura do túnel, e depois uma piscina, com fundo branco, cercada de palmeiras, lembrando um oásis, também com águas transparentes, que com a luz do sol ficam azuis. O que me fez ficar com vontade de banhar-me na piscina azul e passar com todo cuidado ao lado da piscina escura. Nossos olhos nos trazem garantias e sensação de segurança na claridade. O mesmo acontece com muitos ao dirigir.
O auditório preparado na caverna me fez ficar com muita vontade de ali assistir a alguma apresentação musical. Uma música de fundo me fez filmar o local para passar para vocês a sensação de ali estar. E os espelhos que o artista gosta de usar, ali estavam para ampliar o espaço.
Eu sabia que a Cueva de los Verdes era próximo do Jameos. Ao sair no estacionamento perguntei a um funcionário que me questionou se eu estava de carro.
_ " Não, estou a pé, mas já vim caminhando pela praia desde o Bar de Palenque."
_ " Ah! Então você segue reto aqui pelo asfalto. Dá um quilômetro de caminhada, uns 10 minutinhos."
_ " E o senhor sabe se tem algum jeito de ir daqui para Haría sem ter que voltar caminhando?"
_ " Venha cá. Olha, você pode pegar o 9, que passa às 16h48 e descer em Punta Mujeres. E de lá toma o 7 para Haría."
Olhei no relógio e era 15h08. Caramba! Teria que ser rápida mesmo. Será que eu consigo fazer este quilômetro em 10 minutos? E apertei o passo. Era uma subida leve, mas constante, em direção ao vulcão Corona. E meu coração acelerou. E fiquei ofegante. Mas em 10 minutos eu chegava ao meu destino.

E se ele não fala isso, não teria acelerado. E quando lá cheguei a moça da bilheteria me orientou descer para acompanhar o grupo que ia iniciar naquele instante uma visita guiada. Eu nem sabia que ali seria guiada a visita. E era de 50 minutos. Se eu não chego naquele exato instante, teria que aguardar a próxima e ia perder o ônibus. Sou mesmo abençoada. Gratidão.


Nos primeiros 70 degraus para baixo não se pode fotografar, para não atrapalhar os demais na descida e nem se desequilibrar. Depois chegamos ao primeiro salão dos dois que compõem o percurso, além do auditório. E as fotos começaram.
Ela nos explicou em espanhol e depois em inglês que o túnel todo, resultado da lava líquida que escorreu do vulcão até o mar, tem 7, 5 km. Mas nós só iriamos percorrer cerca de um quilômetro.
O percurso é razoavelmente iluminado, nem demais que se perca a beleza natural do local, nem de menos que se corra risco.
Ao contrário dos túneis que eu já visitei, este por ser vulcânico e num local onde não há água, não tem estalactites e estalagmites. Mas tem o que eles chamam de estafilitos, que são pontas formadas pela lava pingando, antes de se solidificar.

Alguns trechos do caminho, temos que nos dobrar um pouco, porque o vão não passa muito de 1 metro. E poucos lugares são muito estreitos.
O auditório das Cuevas é ainda mais impressionante. Ela disse que o som ali se propaga de uma forma muito límpida, não faz eco. E que o piano que ali está foi trazido aos pedaços e montado ali. E que outros instrumentos são trazidos com dificuldade por conta dos caminhos estreitos. Mas os shows são únicos. Fiz um pequeno vídeo também.
Fomos para o segundo e mais amplo salão, impressionante também. E o espaço está tão firme que nem usamos equipamentos de segurança para entrar. Só haveria problema se o vulcão se manifestasse.


E depois ela nos reservou uma surpresa, onde um teste seria feito na maior cova (Jameo) do túnel. Primeiro foi feito o teste e depois pudemos tirar fotos. Mas a surpresa eu não vou revelar, para conservar-se surpreendente.

Ainda vimos o monstro da Cueva. Acho que é mais para o entretenimento das crianças. Mas é aquele lance de usar a imaginação e ver coisas nas formações rochosas.

E terminamos nosso passeio. Não sei dizer qual dos passeios mais me impressionou, porque todos os projeto do Cesar Manrique que visitei, incluído o Parque Timanfaya e o Mirador del Rio, foram de tal modo diferentes entre si, que não conseguiria nem colocar em ordem de preferência. Parabéns ao artista que soube adaptar a obrfa do Criador, tornando-a mais acessível.
Cheguei de volta ao ponto às 16h20. Paguei outros 1,40 e desci no Bar de Palenque mesmo. Às 7h30 passaria o 7 com destino a Maguez.
E enquanto eu estava lá sentada, esperando o ônibus, um homem sentou-se e começou a conversar. Perguntou-me se eu estava de férias.
_ " Não. Eu sou aposentada, estou sempre de férias agora."
_ " Eu também sou, mas por enfermidade né?"
_ " Não. No meu caso é por temo de serviço."
_ " Mas quantos anos você tem? Uns 45."
_ " Não. Mais."
_ " 52? 54? 58?"
_ " Tenho 56."
_ " E eu? Quantos anos acha que eu tenho."
Hummm, pensei, parece mais velho que eu.
_ " A mesma idade que eu."
_ " Não, sou mais velho, tenho 59. E mostrou-me sua identidade. 17 de janeiro de 1961."
_ " Tenho um primo que nasceu no mesmo dia que você, mas ele fez 62." Estou certa Nilson?
_ "Vamos ali que eu te convido para tomar um café."
_ " Ah, não quero. Primeiro porque estou muito cansada de tanto andar, depois porque se tomo café está hora me atrapalha dormir."
E continuamos conversando. Ele disse que planta batatas, mas faz dois anos que não chove e assim, só quem está plantando é quem tem cisterna. Disse que a água dessalinizada não serve para regar as plantas. Nasceu em La Palma, mas mora em Lanzarote há muito tempo. E vive em Haría.
Depois começou a falar que sou forte, mas que ando bastante, o que é bom. Que deveria comer menos.
Pera lá. O que? pensei.
_ " Ando muito mesmo, e estou assim porque gosto de comer doces. É uma eleição minha."
_ " Então, não devia comer muito doce. Um de vez em quando. E evitar pizzas, massas. Comer mais lentilhas, salada, café com leite..."
Moço, o senhor veio conversar comigo, eu estava quieta no meu canto. E agora vem me dar conselhos de nutrição? Pensei que era agricultor, não endocrinologista. E eu nem vim me consultar. Insisti.
_ " Como doces porque gosto, me deixam feliz. Adoro leite, mas não tomo, porque me faz mal. Mas os doces eu continuo comendo, quando quero. È escolha minha."
E nisso o ônibus foi chegando e ele disse que ficou encantado de me conhecer.
_ " Mas você não vai no ônibus?"
_ " Não, agora não."
Então a que veio tudo isso? pensei.
E fui para a Praça de Haría, onde voltei ao Restaurante Tegala e pedi um salpicão de peixe. Recebi uma salada com atum e polvo. Pedi maionese e recebi vários sachês, e assim transformei a salada em algo mais parecido com o salpicão que eu conheço. Outra taça de vinho branco, e desta vez um torta de queijo de cabra de sobremesa.


E agora posso voltar para o B&B, tomar meu banho e descansar. Sem WiFi só vou poder escrever, não vou conseguir publicar. Mas deixo tudo adiantado e deito mais cedo. Amanhã, depois do Mercadinho aqui de Haría, pego o ônibus das 11h03 e volto para Arrecife. Até voltarei um pouco mais cedo do que previa pois amanhã tem o Carnaval que começa de dia, e vai até o amanhecer de domingo. Bora festejar.
